Uma visão retrospectiva, desde o
fim do chamado regime militar vai mostrar os militares em uma infindável crise
existencial onde só se ouve lamuriações e surtos de indignação para esconder a
falta de coragem de agir. Quem duvidar basta olhar para trás e ver que nada
fizemos, além de envelhecer, nestes trinta e poucos anos.
Nunca me conformei com este estado
de lassidão que se apossou da nossa gente e confesso que isso começou há uns
trinta anos atrás, quando senti que esta lassidão estava contagiando os nossos
jovens. Professor de Física do 3º ano, no Colégio Militar de Porto Alegre, em
uma das últimas aulas, conversando com a turma, perguntava o destino de cada
um, o que pretendiam fazer. E o coronel-aluno, primeiro aluno da turma,
disse-me que seu plano era ir para a AMAN, continuar primeiro de turma, fazer
carreira, chegar ao topo, passar para a Reserva e ser indicado para diretor de
uma estatal, ou seja, passar pelo Exército na busca de um objetivo, usar o
Exército e não servir ao Exército. Aí senti que algo de muito errado estava
acontecendo e que algo devia ser feito para que nossos jovens voltassem a sonhar.
E quando vemos o curso de Intendência liderar a preferência na escolha dos
cadetes da AMAN visando futuros concursos para carreiras estatais mais
remuneradas vemos que nada mudou nestes trinta anos.
Ano passado, 2012, através do texto
“A Górgona
Medusa”, recorri à mitologia grega para mostrar que o único que
conseguiu vencer a Górgona, criatura
representada por um monstro feroz de aspecto feminino,
apavorante, terrível cujo olhar transformava em pedra aqueles que a fitavam,
foi o lendário Perseu que conseguiu decepar a cabeça da Medusa sem se deixar petrificar
porque nunca a mirou diretamente nos olhos, mas através do seu escudo
espelhado. Que os “militares não fizeram outra coisa neste quarto de século do
que desafiar a Górgona encarando seus olhos frios da ira, da raiva, da fúria, do ódio e do rancor. E o resultado foi aquele: petrificaram no sentido de
que nada mais fizeram do que se entrincheirar atrás da Lei da Anistia e se
lamuriar sobre o revanchismo. E que o “que venho propondo desde aquele tempo é
que sigamos o exemplo de Perseu, a visão indireta para decepar a cabeça dessa górgona”.
“Sairmos da trincheira e partirmos para a luta, para fazermos aquilo que já
demos inúmeras provas de competência”. “Em poucos anos poderíamos fazer uma
revolução silenciosa dentro do jogo democrático, dentro da lei”.
“Uma revolução silenciosa dentro do jogo
democrático, dentro da lei”, esta a proposta que venho fazendo, mas não visando
um projeto de poder e sim um projeto de nação que viabilize a construção de um
Brasil melhor com a participação de todos os brasileiros, qualquer que seja sua
posição no arco ideológico.
Trata-se de um desafio a ser
inoculado na sociedade, recrutando quadros, formando lideranças sem o pendor de
só pensar na próxima eleição, lideranças capazes de se reproduzirem para atuar
fora dos partidos políticos, dentro dos diversos núcleos em que a sociedade se
organiza na busca de suas demandas. Brasileiros que não queiram começar tudo de
novo, criando perigosas ilusões, mas construir esperanças, através do
passo-a-passo de um plano de longo prazo. Para deixar de correr atrás do vento.
A proposta de que esta Revolução
Silenciosa seja uma iniciativa nossa deve-se a duas convicções: a de que somos
responsáveis pelo que vem acontecendo e a de que somos capazes de iniciar as
mudanças necessárias, incontestável o nosso potencial, já demonstrado no
passado. Possuímos a massa
crítica necessária para iniciar tão grandioso empreendimento. Somos frutos de
uma mesma árvore. Estamos espalhados pelo território nacional, mas mantemos uma
identidade ideológica pautada pelo amor ao Brasil, acima de tudo.
A responsabilidade maior por este
processo de desconstrução nacional que está em andamento e que ameaça a
integridade do Brasil é dos militares. É nossa a responsabilidade porque esta
geração que está comandando o Brasil foi gerada durante o regime militar. Esta
a maior das culpa que devemos assumir, pois inibimos a geração de lideranças em
todas as áreas, aliás, curiosamente, só geramos um líder , o que foi liderar
aquilo que bloqueamos em 64, a instalação desta república sindicalista que
ameaça o nosso futuro, como nação.
Processo de desconstrução nacional
fruto do estado de lassidão em que nos encontramos, que permite que a corrupção
e a podridão política, associados aos interesses externos que pairam sobre a
nação brasileira, ameacem os alicerces básicos da unidade nacional, como a
degradação dos costumes, a integridade territorial e a própria democracia visto
que seus mecanismos vêm sendo usados para a sua destruição.
É nossa a responsabilidade porque a
sociedade nos deu a oportunidade de corrigir o rumo, em 1964, e a
desperdiçamos. Em vez da necessária cirurgia uma envergonhada intervenção que
se traduziu na entrega da Economia para o liberalismo econômico de economistas
liderados por Eugênio Gudin, a Política para os velhos caciques políticos,
inclusos os mais retrógrados e corruptos coronéis políticos do Norte e Nordeste,
reservando para os militares o autoritarismo para garantir que estas áreas
operassem sem qualquer contestação e a missão de enfrentar a subversão. Não
fomos capazes de visualizar a trajetória da sociedade brasileira para preparar
o seu futuro.
O
Brasil da “sociedade de notáveis” em que a população se concentrava no ambiente
rural dominado pelos chamados coronéis migrou, tocados pelos Tenentes de 22 e
pela Revolução de 30, para uma sociedade de classe média com a industrialização,
êxodo rural e todos os problemas conexos para desaguar, sem a preparação
necessária, em uma sociedade de massas que, nas condições atuais, vai jogar o
Brasil na perigosa democracia direta, naquilo que estão chamando de
pós-democracia. Perigosa porque democracia direta sem cidadãos significa
ditadura daqueles que dominam a máquina estatal e que podem manipular com o
assistencialismo, eternizando-se no poder.
Em
1964 nos defrontamos com aquilo que podemos considerar como os primeiros
efeitos da sociedade de massas que começava a se organizar através dos
sindicatos: a ameaça da República Sindicalista. E a abortamos através de um esforço
conjugado das elites econômicas, da classe média e das Forças Armadas.
Não
tivemos, porém, a capacidade de vislumbrar a grandeza do problema.
Preocupamo-nos somente com o que víamos do iceberg. E não nos preparamos para
enfrentar a sua parte submersa, imensamente maior. E não nos preparamos em
todos os aspectos. Não preparamos lideranças à altura dos desafios, gente capaz
de praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas
das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações. Contemporizamos
com uma política cheia de vícios simplesmente para manter uma caricatura de
democracia. Deixamos hibernando uma corrupção que agora ameaça a própria
existência do Estado com escândalos e roubalheiras por todos os lados.
E
agora nos deparamos com um problema mais grave: a eternização no poder de
políticos menores e imediatistas que se perpetuam no poder com o apoio das
elites econômicas, com o voto-a-cabresto bancado pelo programa Bolsa-família e
uma máquina de propaganda tocada por milionárias verbas públicas.
E
não vejo outro objetivo que não seja a de resgatar esta massa de manobra para a
cidadania. E nós temos condições de
induzir tal esforço. Talvez integremos o único grupo capaz de iniciar tão
grandioso esforço. Talvez seja o nosso Clube Militar o ponto de apoio onde
possamos fixar todos esses vetores que sabemos apontar para a construção de um
Brasil melhor, mas um Clube Militar refundado para que volte a ser o agente
integrador de mudança que foi nos anos 50 quando foi forjado o projeto que nos
salvou nos anos 60.
O
general Gilberto Figueiredo, quando presidente do Clube Militar, esteve em
Porto Alegre, reuniu-se com oficiais da Reserva para uma conversa sobre o Clube
Militar e a conjuntura nacional. Depois de uma visão geral da situação do clube
ele deixou um desafio baseado em um diagnóstico correto e corajoso: Como resgatar o prestígio perdido, fruto de
décadas de silêncio durante o regime militar? Não resta dúvida que tudo
começa por este resgate.
O
resgate do prestígio perdido passa por um grande objetivo, um objetivo que
transcenda à corporação, um objetivo nacional. Enquanto não extirparmos do
coração da nação as raízes da lassidão moral e nele inocularmos as sementes da
cidadania, vãs serão as tentativas para construirmos um Brasil melhor.
Porque
o nosso inimigo não é o Lula, o projeto de poder que ele representa, mas a
lassidão moral que, conjugada com a miséria, tem levado mais de 50 milhões de
brasileiros a relevar o mar de lama para manter no poder uma quadrilha que
somente visa o poder pelo poder para se apossar do Estado. É a lassidão moral que torna o terreno fértil para o surgimento de
novos Lulas.
E
só começaremos a caminhar nesta direção quando nos dispusermos a arrancar dos
nossos corações as raízes da amargura de que fala o Apóstolo Paulo, na sua
carta aos Hebreus, e passarmos a pensar unicamente no futuro desse país.
A
revolução silenciosa, para a qual estou propondo a elaboração de uma agenda,
não precisará das armas que faziam revolução, mas daquelas que dispomos e que
são mais eficientes nos tempos em que vivemos. O Filho do Senhor dos Exércitos,
quando dava as últimas instruções aos seus discípulos, ao encerrar a Sua missão
redentora, disse-lhes: "Eu os estou enviando como ovelhas entre
lobos. Portanto, sejam astutos
como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mateus
10,16).
Pois
seremos como Ele nos mandou: “astutos como as serpentes e sem malícia como as
pombas”. Esta, a essência da revolução silenciosa, cuja agenda, está sendo
proposta para que a discutamos.
O
Brasil não pode ficar oscilando entre ingênuos e oportunistas surtos de juras
de legalismos e retardados faniquitos de indignação que nada mais são que a
falta de coragem para agir, para transformar esta indignação em ação. Porque
não tem mais tempo para perder. E muito menos, nós, pobres mortais que já
entramos no último terço de uma existência que só Deus sabe quando terminará.
E esta
revolução silenciosa não necessita de um salvador da pátria para liderá-la,
precisa de um plano de ação. As lideranças irão surgindo à medida que se
avançar. Precisamos de uma agenda que provoque uma ARTICULAÇÃO das ações de
todos. Uma agenda para promover esta revolução silenciosa, a revolução
brasileira que os Tenentes de 22 não conseguiram: transformar o brasileiro em
cidadão para escreverem o projeto de nação, necessário para um crescimento
ordenado, autossustentado, duradouro e capaz de construir um Brasil melhor.
Para
liderarmos tão ousado esforço, como registrei em texto de uns dois anos atrás (Verdade
Sufocada, É necessário recontextualizar):
“É necessário RECONTEXTUALIZAR, é necessário QUEBRAR PARADIGMAS.
Caso contrário essa geração que tem um General Torres de Melo em uma ponta e,
digamos eu, aspirante de 1963, na outra, passaremos como aquela que não teve a
coragem de olhar para o próprio umbigo e dizer NÃO para o que sabemos estar
errado e ter a coragem de corrigir, deixando de lado corporativismos e pensando
exclusivamente em criarmos um Brasil melhor. Cabe a nós ter a coragem de
quebrar os paradigmas que sabemos inibir o ressurgimento daquele Clube Militar
que sonhamos para liderar as mudanças necessárias”.
“É necessário RECONTEXTUALIZAR o que temos a certeza
será o nosso agente dessa mudança: o nosso Clube Militar que deve voltar a ser
o grande facilitador da convergência dos anseios dos militares, com a
representatividade para participar democraticamente do debate da sociedade
organizada. Este, o grande desafio: o retorno dos militares, como cidadãos, com
todas as suas potencialidades, ao esforço nacional para a construção de um
Brasil melhor”.
A revolução
cultural
E esta revolução cultural para ajustarmos
o nosso Clube Militar a esta grande missão deve iniciar pelo reconhecimento de que
este estado permanente de indignação em que vivemos é para esconder a falta de
coragem para agir, para provocar mudanças. Exatamente o que não nos faltou em
1964 e pela revisão de alguns conceitos:
Agora os atores são os da Reserva: reconhecer que passou o tempo de revoluções armadas
que se iniciavam dentro dos quartéis. Passou o tempo em que os da Ativa eram os
atores, agora os atores somos nós, os da Reserva, os que possuem as armas
adequadas ao debate democrático.
Isto não impede, no entanto, a participação dos oficiais da Ativa porque, como
pregava Osório, "a farda não abafa o cidadão no peito do soldado".
Saber mudar de inimigos: reconhecer o que Roberto Campos sintetizou em “Reflexos
do Crepúsculo” e o que venho pregando nos últimos trinta anos: “Saber mudar de
inimigos é não só uma receita de sobrevivência como, às vezes, uma receita de
sucesso”. E estou cada vez mais convicto de que sem isso não evoluiremos.
Erramos o alvo lá em 1964 quando um bando de pelegos tentava instalar uma
república sindicalista contando com o bonachão João Goulart que de comunista
não tinha nada. Lógico que tinham comunistas que foram derrotados por nós, mas
o foco deveria ter sido a corrupção que estava por trás da pelegada. Resultado:
continuamos achando que o inimigo é o comunismo e, para evitar o retorno de
Brizola, acabamos parindo o líder da república sindicalista que comanda o país
com um grau de corrupção nunca visto.
Esquecer o revanchismo: enquanto estamos fixados nos olhos da medusa (vide A górgona medusa) ,
Lula &Cia consolidam uma aliança com o capital e com a massa de eleitores,
via benesses do bolsa-esmola, e deixam seus radicais distraírem os militares
com o tal revanchismo. Para poder passar com a quadrilha que assalta o Estado,
lançaram um boi-de-piranha para distrair os militares.
Participação política: reconhecer que participação política não se resume
à atividade parlamentar e que nossa cultura não nos permite uma efetiva
participação porque sempre priorizaremos o nacional sobre o pessoal. Os anos de
regime militar estão aí para provar: nossas reivindicações eram abortadas pela
“cota de sacrifício” e acabamos ficando como os primos pobres. Acabamos ficando
com o ônus dos 20 anos em que se construiu o Brasil de hoje.
Potencial Cívico
Potencial
cívico é a pedra angular deste ambicioso projeto para induzir uma revolução
silenciosa. Não se trata de patriotismo, mas do essencial para o surgimento de
uma comunidade cívica, pautada pelo engajamento, igualdade, solidariedade,
confiança e tolerância, capaz de gerar um estoque de capital social que sirva
de semente para espalhar pelo país nesta revolução silenciosa que se propõe.
Falta o potencial cívico para gerar a sinergia que vai potencializar os nossos
recursos e as nossas virtudes que estão sendo desperdiçados nestes anos de
crise existencial.
Não
vai ser fácil criar potencial cívico em uma comunidade de militares, tendo que
conciliar as relações verticais de autoridade e dependência (que estão em nosso
DNA) com relações horizontais de reciprocidade e cooperação. Mas é necessário e
é possível, sem prescindir da divisão do trabalho ou de liderança política.
Lideranças comprometidas em valorizar a igualdade e todos comprometidos com o
engajamento.
No
caso do Clube Militar o baixo engajamento cívico é devido ao fato de que os
vínculos verticais de autoridade predominam sobre os vínculos horizontais de
solidariedade. Exatamente isso que aconteceu depois de 64: foram estimulados os vínculos verticais de
autoridade e inibidos os horizontais que estimulam a igualdade, a
solidariedade, o engajamento. O primeiro passo seria retornar àquele ambiente
que antecedeu e que preparou a Revolução de 64.
Retornar
àquele Clube Militar do início dos anos 50 quando presidia o Clube Militar o
general Estilac Leal, também ministro da Guerra, “tido como adepto das teses
marxistas, reuniu em sua diretoria a fina flor da esquerda ideológica militar”,
na opinião do general Frota (in, Ideais Traídos, p.57). Reagindo contra a
publicação de um artigo na Revista do Clube Militar (“Considerações sobre a
guerra da Coréia”), considerado pela maioria como “abuso e irresponsabilidade
da redação da revista, usando-a para divulgar artigos atentatórios aos nossos
princípios, compromissos e filosofia de vida”, continua o general Frota. Pois
foi nesse ambiente que surgiu a mobilização para um movimento de reação.
Faltava o nome. “Na balbúrdia das sugestões, levantou-se o capitão de
Artilharia Jarbas Passarinho, que propôs fosse dado o nome de Cruzada
Democrática às atividades do nosso grupo”. “Recebeu aplausos e aprovação
unânimes. Assim nasceu a Cruzada Democrática que a despeito de todas as
perseguições e restrições sofridas, firmou-se no conceito da oficialidade,
estendeu-se por todo o Brasil e venceu as eleições do Clube Militar no biênio
1952-54, elegendo uma diretoria presidida pelo ínclito general-de-divisão
Alcides Gonçalves Etchegoyen, que despejou de nossa entidade de classe os
nacionalistas moscovitas”, arrematou o autor de “Ideais Traídos”.
Este
o exemplo de potencial cívico que existia naquela época e que está nos
faltando. Inimaginável a reprodução desta cena nos dias atuais: um capitão da
Ativa levantar no meio de um grupo de oficiais, maioria da Ativa, explicar “com
eloquência a justeza e a racionalidade da sua proposta”, em uma reação contra o
general presidente do Clube Militar e ministro da Guerra. Sem dúvidas,
inimaginável. Este o potencial cívico que devemos resgatar.
Articulação
Recentemente,
passava por uma cafeteria, no centro de Porto Alegre, e deparei-me com um
companheiro da Reserva e bem mais moderno que estava acompanhado de um colega,
também coronel da Reserva. Convidado, sentei e ficamos conversando sobre
assuntos nacionais e do nosso Exército. Fiquei pensando: estou há uns trinta
anos nesta militância e nunca me cruzei, nem que seja por um e-mail repassado
com este companheiro que se nota um estudioso dos nossos problemas. Brilhante. Pedi
o seu e-mail para que pudéssemos nos conectar e depois da insistir respondeu-me
que o seu colega depois me passaria, ou seja, demonstrou total falta de
interesse em se conectar, em construir aquilo que todo líder sabe ser essencial
para o sucesso: networking. Este um dos nossos grandes problemas: não temos potencial
cívico suficiente para entender que sem articulação somos como vetores que sem
ponto de aplicação para gerar resultantes nada mais produzem do que perda de
tempo.
Representatividade
Representatividade
é a palavra mágica que abre qualquer porta numa democracia. Num regime
democrático, o debate se dá na sociedade organizada onde predominam aqueles
setores que tenham mais representatividade. E representatividade não se ganha,
se conquista. Este o maior desafio e o maior compromisso do companheiro que assumir
o Clube Militar.
Elogiável
o esforço feito com o Projeto Novos Camaradas que o general Pimentel ajudou a implantar e que
consta no seu programa, mas acredito que o mais importante vai ser seduzir
nossa gente, não com benefícios, mas com um desafio grandioso como este de se
iniciar uma revolução silenciosa, sem depender de mais ninguém do que do nosso
esforço e da nossa capacidade de articulação. Convocar os velhos companheiros
que desistiram diante da lassidão que se adonou do nosso clube.
Um
esforço deverá ser feito para resgatar os militares desta posição marginal no
debate nacional do qual fomos alijados por culpa de uma visão enviesada de
nossos chefes. A reconstrução desta representatividade perdida passa pela
prioridade do político sobre o corporativo. A solução dos nossos pleitos passa
forçosamente pelo político. Nunca pelo corporativo. Pelo atalho do
corporativismo perdemos sempre. Simplesmente porque o corporativismo privilegia
a parte diante do todo e nós nunca deixaremos que os nossos interesses
atropelem os interesses da nação.
O
regime militar transformou o Clube no círculo militar da guarnição do Rio. Os
que chegaram ao poder, em parte pela continuada mobilização política feita pelo
Clube Militar, trataram logo de desativá-lo para que não gerasse outros
líderes. Para que não continuassem a pensar, a conspirar pela construção de um
Brasil melhor. Uma geração inteira de oficiais foi afastada do Clube e hoje
está fazendo falta. Meu caso, aspirante de 1963, cheguei à tropa com a
Revolução de 64 e somente me tornei sócio após a passagem para a reserva.
Para que o nosso clube volte a ser
o Clube Militar que teve participação decisiva em todos os grandes momentos da
vida nacional, até o advento do regime militar, vai ser necessária uma reforma
estrutural que o transforme em uma associação de caráter nacional que congregue
oficiais das FFAA, em especial do Exército, deixando de ser o circulo militar
da guarnição do Rio de Janeiro. Uma sociedade civil independente e
representativa de uma classe, que se torne respeitada e reconhecida pela defesa
intransigente dos interesses nacionais.
Independência
Independência
significa não dependência de qualquer das três forças, significa maturidade
para uma relação respeitosa, mas independente com os chefes militares. Uma das
mais significativas medidas seria a mudança do sistema de arrecadação social
que passaria do “desconto em folha” para o “débito em conta”, providência que
simbolizará o corte do “cordão umbilical” com Exército, Marinha e Aeronáutica e
a necessária atitude de participação de todos os associados. Simbolizaria o
“passo a frente” dos associados na reconstrução do Clube Militar.
Correta
a posição do general Felício ao afirmar no seu programa que será respeitosa e
pautada pela independência a relação de sua diretoria com os chefes militares,
caso eleito. Aliás, não poderia ser outra esta relação entre companheiros,
produtos da mesma forja.
Escola Superior de Geopolítica
Imprensados entre o exército do faraó e o
mar Vermelho os israelitas começaram a se lamuriar para Moisés: “Antes ser
escravos dos egípcios do que morrer no deserto. Moisés respondeu ao povo” (Ex,
14,12). Vendo Deus que Moisés lhes disse
que Ele os ajudaria, disse-lhe: “Por que você está clamando a mim? Diga aos
israelitas que sigam avante. Erga a sua vara e estenda sobre o mar, e as águas se
dividirão para que os israelitas atravessem o mar a seco” (Ex, 14,15).
Da mesma forma, nós, passamos os últimos
trinta anos nos lamuriando e vendo as manobras do Foro de São Paulo e a
aplicação do gramscismo e as manobras para desmontar a nossa ESG e influir nos
currículos escolares, até de nossas escolas militares. E o que fizemos, além de
nos lamuriar? NADA! O general Patton dizia que “herói não é aquele que morre
pela sua pátria, mas aquele que faz os outros morrerem pela deles”. E nós
ficamos esperando para morrer pela pátria enquanto eles vão tocando seu
projeto.
Ora, se as táticas do gramscismo são tão eficientes, a ponto de nos
manterem preocupados por trinta anos, por que não as empregar para neutralizar
a sua ação? Por que não cr8iar a vacina com o veneno? Por que não atuar,
também, sobre os “centros de irradiação cultural”, escolas, universidades,
foros públicos, infiltrando-se na mídia, na religião, na política, nos meios educacionais? Estão
reescrevendo a história, pois vamos contra atacar, o projetos ORVIL e Verdade Sufocada tem uma belíssima experiência
que pode servir de base, mas tudo com a astúcia.
A proposta é a fundação de um centro de estudos de
geopolítica, no sentido mais amplo: disputas
de poder no espaço mundial, Geografia, teoria política, estudos estratégicos, com a participação de historiadores, sociólogos, economistas, ambientalistas, cientistas políticos
e internacionalistas. Unir a nossa experiência na gestão
do ensino com as belíssimas cabeças que temos dentro das FFAA e com elite civil
que sonha com uma reação deste quilate.
Esta escola que poderia ser chamada de Escola Superior de
Geopolítica seria o grande centro de estudos dos problemas brasileiros com a
missão de formar quadros e de ser o centro irradiador para espalhar pelo país
as sementes de um Brasil melhor.
Imagine
que no Brasil seja desenvolvido um grau de potencial cívico capaz de
transformar os brasileiros em cidadãos que resolvam, esgotados todos os
recursos para a correção de determinado produto, não consumir mais este
produto. A fábrica e toda a cadeia agregada sofreriam um impacto que poderá
levar à falência.
E esse
produto, para os marqueteiros, tanto pode ser uma margarina como um presidente
da república. Consolidada esta nova "regra do jogo", mudarão as
relações com o consumo, passando o consumidor a comandar o processo. Isto, no
entanto, só se tornará viável se houver união e um elevado potencial cívico
capaz de gerar a disciplina necessária a se sacrificar as liberdades
individuais em benefício das liberdades coletivas.
O
primeiro passo na direção desta utopia será o reconhecimento de que os
causadores deste estado de servidão não são a propaganda e o marketing
político, mas o baixíssimo nível de potencial cívico do brasileiro o que o
torna presa fácil das modernas técnicas de propaganda que o transformam em um
consumidor do que lhe querem vender e não do que necessita para suprir suas
demandas. Isso em todos os campos, inclusive, o político onde chegamos ao
absurdo dos marqueteiros políticos se vangloriarem de que elegem qualquer um,
não interessando suas ideias ou o seu passado e suas potencialidades, tudo
sendo função do volume de recursos de campanha. Ao Maluf pediram um negro,
universitário, casado para que o transformassem em prefeito de São Paulo. Para o
Lula qualquer poste serve desde que, depois, eles sirvam seu projeto de poder.
O Poder Cidadão
não é um projeto de poder de um grupo de cidadãos, é um projeto de poder de
toda a sociedade, para que se torne realidade a máxima constitucional
"Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". O Poder Cidadão vai
proporcionar a capilaridade necessária para irradiar pelo Brasil a cultura gerada
pela Escola Superior de Geopolítica.
Em
cada rincão deste imenso país existe um contingente de brasileiros, dotados de
um potencial cívico capaz de servir de célula para a implantação do Poder Cidadão. Para
ajudar a transformar indignação em ação. Basta um esforço de articulação para
surgir uma trincheira em cada canto. Para combater a corrupção, para defender o
consumidor, para exigir melhores serviços públicos, para combater a manipulação
da informação, para a formação de lideranças, para o combate à miséria. Tudo
isso sincronizado com o que existe de bom na sociedade.
Rede Nacional de Solidariedade
“Voluntários da Pátria”
Voluntários
da Pátria, uma rede nacional de solidariedade, destinada a operacionalizar a
vontade dos brasileiros de lutar contra as iniquidades e pela formação de uma
sólida cidadania capaz de viabilizar um duradouro projeto nacional. Estruturada
dentro do projeto Poder Cidadão
(detalhamento no blog) funcionará, basicamente da seguinte forma: uma célula
OPERADORA encarregada de administrar o projeto empregando os recursos captados
por outra célula, a MANTENEDORA encarregada de captar os recursos buscados no
Brasil rico e no exterior através de uma rede de solidariedade que cresceria à
medida que fossem aparecendo os resultados.
Como projeto entende-se desde a manutenção de uma creche até um tipo de
ação cívico social com a participação de universitários que se deslocariam para
participar de um projeto em uma comunidade carente, durante as férias escolares.
Nossos jovens já andaram cortando cana em Cuba e Nicarágua, por que não no
Cariri Ocidental ou no Vale do Jequitinhonha? Voltariam conhecendo melhor o seu
país e as suas demandas.
Esta,
a utopia desarmada que o Poder Cidadão pretende
inocular na sociedade brasileira: a de construir um Brasil melhor com a efetiva
participação de todos nós.
Estrutura organizacional
A
estrutura organizacional que o Clube Militar deve adotar para atender tão
ousado projeto emergirá dos debates que estou sugerindo. Deixo, no entanto uma
sugestão como primeira aproximação deste novo modelo:
1.
Criação de sedes
regionais nas cidades onde estiverem os comandos militares mais importantes,
cada uma delas com uma vice-presidência;
2.
O Rio de Janeiro abrigaria
duas vice-presidências: a VP de Gestão com as áreas de administração/finanças, patrimônio,
quadro social, jurídico e a VP de Assuntos Estratégicos à qual estariam ligadas
as áreas de Informações e a Escola Superior de Geopolítica;
3.
Em Brasília
ficaria a VP de Assuntos Institucionais, encarregada das
relações externas com os três poderes da República, com Assessoria de Imprensa
e Assessoria Parlamentar cuja função será formar uma “bancada militar” com os
parlamentares existentes, civis ou militares, fazendo lobby para o atendimento
das nossas demandas;
4.
As demais VP
regionais, além da administração do quadro social na sua área, dariam suporte
aos projetos das demais VP;
5.
Esta estrutura
associada às facilidades de mobilidade e de comunicação permitiria que a
presidência se localizasse onde se sentisse mais confortável, eliminando assim
a condicionante de o Presidente residir no Rio de Janeiro.
Quem
teve a paciência de ler até aqui concordará que se trata, mais do que uma
proposta, de um desafio aos candidatos à presidência do Clube Militar para que
busquem uma convergência de ideias, para
que possamos dar um retorno a tudo que recebemos da nação: a melhor formação
que um brasileiro poderia ter, em todos os sentidos.