Na
promulgação da Constituição de 1988, na frente de cinco ministros quatro
estrelas, o todo poderoso Ulysses Guimarães culpou-nos pelo assassinato de
Rubens Paiva, chamando-nos de fascínoras. Escrevi um artigo para “O Estado de
S.Paulo” (“A mulher de Lot”,18/10/1988), comparando-o àquela personagem bíblica
que ao olhar para trás se transformou em uma coluna de sal (Genesis 19, 26): “ Violências
e desrespeitos aos direitos humanos ocorreram no passado recente, mas não é
justo pinçar um caso reconhecideamente lamentável e condenável, para avivar
feridas que a todos interessa ver cicatrizadas. Por acaso não era também
sociedade o pracinha de 18 anos que foi pulverizado por um carro-bomba enquanto
guarnecia o Quartel do Ibirapuera?”. “Não
será avivando feridas do passado que construiremos uma grande nação, não será
lembrando a Intentona de 35 ou os momentos dificeis do regime militar que
resolveremos nossos problemas”. “Pensei
que a Constituinte tivesse nos ensinado a olhar para a frente, mas o seu
presidente deu uma demonstração de que pelo menos os nossos políticos continuam
propensos a absessões retrospectivas, com o futuro limitado à proxima eleição.
Talves esta atitude seja fruto de incertezas; quando não se tem seguro o
presente, é dificil pensar o futuro, é mais fácil cair na recriminação mútua.
Não se alcança a grandeza buscando explicação para a própria debilidade. A
grandeza se alcança fazendo o difícil e o difícil é evitar o atalho da
demagogia e enfrentar o duro caminho por onde só transitam os estadistas”.
Passados
quase 25 anos, recorro à mitologia grega para tentar convencer os companheiros.
De lá tiro a Górgona Medusa, criatura representada por um monstro feroz de
aspecto feminino. Górgona,
apavorante, terrível. Seu olhar transformava em pedra aqueles que a fitavam. É o símbolo
da mulher rejeitada, e por sua rejeição incapaz de amar e ser amada. Odeia
tanto os homens como as mulheres, e estas pelo fato de ter deixado de ser
mulher bela para ser monstro. Medusa
é a própria infelicidade, seus filhos não são humanos, nem deuses, são
monstros. Seu semblante é o símbolo da histeria forjada com ira, raiva, fúria, ódio e
rancor.E o atual ícone desta campanha contra as Forças Armadas é a ministra Maria do Rosário que incapaz de pensar o futuro se atém a cultivar a ira, a raiva, a fúria, o ódio e o rancor. A sua figura até lembra a mais conhecida das representações da Górgona Medusa, a de Arnold Bocklin (1878). Notem a semelhança.
Os militares não fizeram outra coisa neste quarto de
século do que desafiar a Górgona encarando seus olhos frios da ira, da
raiva, da fúria, do ódio e do rancor. E o
resultado foi aquele: petrificaram no sentido de que nada mais fizeram do que
se entrincheirar atrás da Lei da Anistia e se lamuriar sobre o revanchismo.
O que venho propondo desde aquele tempo é que
sigamos o exemplo de Perseu, a visão indireta para decepar a cabeça dessa
Górgona. É sairmos da trincheira e partirmos para a luta, para fazermos aquilo
que já demos inúmeras provas de competência. Aquilo que propus naquele artigo
do Jornal do Brasil (“Por trás do Urutú”, 25/10/1987): “Não é uma nova
intervenção que está na cabeça da maioria dos militares, mas o desejo de
participar ativamente da luta pelo desenvolvimento social”. Propus porque estava
certo de que em pouco tempo assumiríamos uma posição relevante que faria a
sociedade reconhecida pressionar pelas nossas demandas. Em poucos anos
poderíamos fazer uma revolução silenciosa dentro do jogo democrático, dentro da
lei.
Agora, para isso, duas coisas
deveremos fazer. A primeira é arrancarmos dos nossos corações as raízes da
amargura de que fala o Apóstolo Paulo, na sua carta aos Hebreus: “Cuidem que
ninguém se exclua da graça de Deus, que nenhuma raiz de amargura brote e cause
perturbação, contaminando muitos”. E a segunda é sairmos da zona de conforto,
seguir o conselho de Felipe Gonzáles: “No se modifica la realidad desde la
orilla. Si quieres modificarla, hás de mojarte”. Somente assim conseguiremos
contribuir eficazmente para a construção de um Brasil melhor.
O nosso inimigo não é o Lula, ícone
deste projeto de poder que aí está, mas a lassidão moral que, conjugada com a
miséria, leva milhões de brasileiros a relevar o mar de lama que estão gerando
para mantê-los no poder. A lassidão
moral que forma o terreno fértil para o surgimento de novos Lulas e para que
projetos alienígenas cravem suas raízes no solo pátrio.
A revolução silenciosa, para a
qual estou propondo a elaboração de uma agenda, não precisará das armas que
faziam revolução, mas daquelas que dispomos e que são mais eficientes nos
tempos em que vivemos. O Filho do Senhor dos Exércitos, quando dava as últimas
instruções aos seus discípulos, ao encerrar a Sua missão redentora,
disse-lhes: "Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos.
Portanto, sejam astutos
como as serpentes e sem malícia como as pombas" (Mateus
10,16).
Poderemos ser como Ele nos mandou:
“astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas”, ou seja, usarmos a
visão indireta de Perseu para decepar a cabeça da Górgona que ameaça
transformar este país em uma grande Cuba. Esta, a essência da revolução
silenciosa que poderemos iniciar. Acesse O
Poder Cidadão e verá uma proposta ajustada ao
nosso perfil que poderá
servir de base para o início deste debate.
O Brasil não pode ficar oscilando
entre ingênuos e oportunistas surtos de juras de legalismos e retardados
faniquitos de indignação. Porque não tem mais tempo para perder. E muito menos,
nós, pobres mortais que já passamos da metade de uma existência que só Deus
sabe quando terminará.
O que me leva a propor essa
revolução silenciosa é a convicção de que possuímos a massa crítica necessária
para iniciar tão grandioso empreendimento. Somos frutos de uma mesma árvore.
Estamos espalhados pelo território nacional, mas mantemos uma identidade
ideológica pautada pelo civismo e pelo amor ao Brasil, acima de tudo.
Com todo este potencial, estamos
marginalizados e nos limitamos a nos indignar enquanto o país vai perdendo o
tempo que não mais dispõe e, nós, desperdiçando uma geração que muito tem a dar
porque muito recebeu.
Enquanto o Brasil vem sendo tocado
por políticos menores que se preocupam unicamente com a próxima eleição, com
seus interesses e dos grupos que os financiam e que se perpetuam no poder
através de uma democracia fajuta, mantida por massas de miseráveis, sustentados
por verbas públicas, na mais rudimentar das práticas assistencialistas.
O grande problema que enfrentamos
foi certamente criado por nós, militares, que durante o regime militar não
soubemos consolidar um processo eficiente de geração de líderes, gente capaz de
praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas
das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações.
A visão indireta que vai decepar a
cabeça dessa Górgona que nos atormenta nas últimas décadas é esta revolução
silenciosa, a revolução brasileira que os Tenentes não conseguiram: transformar
o brasileiro em cidadão para escrever o projeto de nação, necessário para um
crescimento ordenado, auto sustentado, duradouro e capaz de construir um Brasil
melhor.
(Início do
outono de 2012)
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